Dona Celeste Arantes do Nascimento, a matriarca da família que viu nascer e florescer o Rei Pelé, completa 101 anos sem grandes motivos para celebrar no Dia da Consciência Negra.
Quando um grupo de jovens universitários em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, deu origem ao Dia da Consciência Negra em 1971, Dona Celeste já tinha vivido mais de meio século. Sua jornada começou em Três Corações, Minas Gerais, onde enfrentou uma infância e adolescência marcadas pela pobreza. Antes da emblemática data, a praça central da cidade homenageava um escravagista, sendo renomeada Praça Pelé somente em 2022.
Dona Celeste, como a maioria dos negros brasileiros, enfrentou desafios, mas encontrou felicidade nas pequenas coisas. Desde vender jaboticabas nas ruas de Três Corações na infância até os anos em que cuidou dos filhos Pelé e Zoca, sua vida foi uma mistura de adversidades e momentos de alegria.
A entrevista concedida à ESPN, 13 anos atrás, mostra a lucidez e generosidade de Dona Celeste, uma mulher que, mesmo enfrentando o Alzheimer, permaneceu forte. Em um encontro ao lado do filho Pelé, ela revelou seus sentimentos sobre a carreira do filho e até desmistificou a data de nascimento registrada erroneamente.
No entanto, a família enfrentou desafios nos últimos anos. Dona Celeste, vivendo em um estado inconsciente e dependente de cuidados, não pôde comemorar seu centenário em 2022. Além da enfermidade, o filho Pelé lutava contra um câncer agressivo, preocupando-se com a saúde da mãe até seus últimos dias.
Pelé, um ícone do futebol mundial, cuidou não apenas das necessidades financeiras da mãe, mas também de outros familiares. Mesmo com as dificuldades financeiras que surgiram, seu compromisso era inabalável. O Rei do Futebol partiu no final de 2022, mas Dona Celeste, aos 101 anos, permanece como um símbolo de resiliência.
Neste Dia da Consciência Negra, ao refletirmos sobre heróis esquecidos, como Didi, Dorval, Coutinho, Barbosa, Garrincha, Zizinho e João do Pulo, é imperativo lembrar daqueles que ainda estão entre nós, como Dona Celeste. Que possamos reconhecer e valorizar não apenas os que brilham nos holofotes, mas também aqueles que, como ela, moldaram a trajetória de um verdadeiro Rei.